Esta noite fui até ao meu sítio preferido por três vezes, e vi-o de três maneiras diferentes. A Calheta é assim mesmo, um sítio mágico, especial e cheio de mistério. Lá consigo encontrar vários estados de espírito.
Da última vez que lá estive a fumar o meu cigarro pensativo, vi o mar a atacar as grandes rochas sedimentares, já em estado de decomposição. O mar, é um forte agente erosivo, principalmente para as rochas formadas a partir da areia. Ela vai-se desgastando, até ficar em meras partículas soltas. A violência do mar, ao bater nas rochas, cobre-as e quase que as deixamos de ver. A espuma branca, toma conta do amarelo arenoso da paisagem, roubando partículas da sua composição. Por mais resistente que a rocha possa ser, vai deixando de existir, dando lugar à lembrança que, se calhar, muitos registos nem vão lembrar. Depois? Cai no esquecimento...
Dei por mim a pensar nas muitas agressões que a rocha sofreu e ainda vai continuar a sofrer ao longo da sua, já contada, existência. No estado em que já está, já ninguém pode fazer muito por ela, qualquer alteração sofrida é uma pequena morte para o ser já por si inanimado.
Se tivesse consciência e pensamento, que pensaria ela hoje? Pediria para parar? Ajudar para renascer? Ou não teria mais forças para resistir às agressões que lhe são feitas diariamente? Pediria para terminar tudo duma vez? Estará cansada? Dorída? Farta? Chateada? Magoada? Desiludida por lhe roubarem, pouco a pouco a sua beleza? Morta? Desejando a morte?É algo que nunca se saberá... Se ao menos o mar e o vento parassem de sugar-lhe a vida e sussurrassem o que lhes faz fazer aquilo, talvez se apercebessem que a beleza está no equilíbrio do que rodeia tudo. O que vi hoje foi destruição, a continuação dos outros dias. Amanhã? Só Deus saberá...
Tenta descansar, rocha... Nos momentos de trégua e no "tapar de olhos" com a peneira, tenta descansar...
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
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1 comentário:
A vida de rocha é muito dura... eu eu que o diga...
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